É tão delicioso se surpreender, em um “daqueles” dias de “deu tudo errado”, com uma música linda! Uma música que tem a melodia perfeita e a letra que transborda sentimentos e sensações tão já vividos pessoalmente que nunca se imaginariam expressos por outro indivíduo de forma tão fiel. Como se a sinceridade das coisas do coração pudesse ser delegada e sustentada por outras pessoas de forma espontânea e sem a exigência de intimidade prévia. Justamente naqueles momentos em que a desilusão esgotou meus movimentos e calou minha voz. Quando o coração está tão murcho, tão atrofiado, que nem sai o “bom dia” pro porteiro e nem aquele riso educado e respeitoso para o trocador de ônibus. O movimento facial fica pesado, a garganta fechada, as mãos magnetizadas pelo chão. E aceita-se passar por mal educada e mal humorada e mal amada. Melhor que ficar tentando agradar e não conseguindo nunca, e se frustrando, e se cansando mais e mais. E gregos e troianos combatendo sua existência irritantemente correta e bondosa. Sou mal amada mesmo, talvez nem amada eu seja, talvez ninguém pense em mim antes de fechar os olhos no fim do dia. Talvez toda a solidariedade e compreensão com o próximo foram exercício em vão, coisa de gente boba sem sacanagem. Aí o choro vem subindo e eu engulo uma vez, e outra, e o olho enche d’água, e engulo de novo e respiro fundo pra irrigar o cérebro. E o choro chora por dentro mesmo, e dói muito mais, e a lágrima faz arder o pulmão, o rim, e até o baço arde – pra isso ele serve uma vez na vida. Cada um que passa e cruza meu caminho e não cruza um olhar sequer de piedade, cada um que podia ser o “só um” que me falta e não é nunca. E nunca é. Nunca. E eu quase desisto de tanto que queima. Aí de repente os ouvidos me salvam e trazem a música que escorre toda a minha angústia psicografada por um encarnado desconhecido, que me conhece tão bem. E que eu nunca vi ao vivo, nem morta. Como é bom se sentir acompanhada nesta solidão inesgotável e insensível dos fones de ouvido…
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